terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Idas e vindas...

Oi!
Eu só passei pra postar esse texto curtinho que achei guardado no meio dos meus rascunhos...



Tudo começou há dezesseis anos.
Estávamos dançando.
A melodia suave que o som emitia era reconfortante, assim como estar em seus braços.
Claro que eu não sabia se os meus sentimentos eram recíprocos, mas gostava de imaginar.
Eu era jovem, tinha apenas quatorze anos.
Ele era alguns meses mais velho.
E tão jovens não imaginávamos o que viria.
Os anos passavam lentamente, e com eles a nossa amizade.
De amigos, passamos a ser melhores amigos.
Íamos ao cinema, ao teatro.
Passávamos horas a fio conversando. Até o dia em que nos sentimos verdadeiramente seguros.
Não tive medo e dividi meus segredos com ele. E ele fez o mesmo.
Ajudávamos-nos a estudar.
Eu gostava da companhia dele e pelo visto ele também gostava da minha.
Saíamos juntos apenas para ter um ao outro. Andávamos por horas pelo centro da cidade sem cessar, mudos.
Nos meus fones uma música fofa e tranquila. Que hoje significa muito.
Eu imagino que nos dele tocava alguma música eletrônica, da qual ele não deve se lembrar o nome.
Um fato interessante a nosso respeito. Nunca dizíamos adeus.
Era como se nossas conversas nunca tivessem ponto final. Apenas reticências...
Sabíamos que não haveria fim. Pelo menos sonhávamos.
E então chegou.
O ultimo dia de aula.
Terceiro ano.
Eu queria cursar psicologia.
Ele, medicina.
Caminhos diferentes.
O pesadelo que me assombrou todo o ano.
Ele queria viajar, explorar o mundo, conhecer novas pessoas e lugares diferentes.
Eu gostava do conforto da minha vidinha ao lado dos meus pais.
Abraçamos-nos forte, com lágrimas nos olhos. Nunca esqueceria essa cena.
Prometemos-nos não perder contato.
Jovens tolos.
Meu primeiro dia na faculdade e já não nos falávamos.
Sentia falta disso.
Sentia falta das reticencias constantes.
Sentia falta dos passeios mudos.
Sentia falta dele.
E orava para que ele sentisse a minha.
Depois de quase dez anos recebi a notícia.
Ele havia voltado à cidade.
Um médico renomado.
Importante.
Senti-me feliz.
Permiti-me sorrir quando soube da notícia.
Com esse tempo que se passou, me tornei psicologa, comecei a entender a mim mesma.
Um ano depois e não havia o procurado.
Ele também não veio a minha procura.
E então aconteceu de novo.
Mas dessa vez o choque era apenas meu.
Minha mãe estava doente.
Meu pai marcou o médico, mas não poderia a acompanhar. Eu, filha única, fiquei com a tarefa.
Quando peguei o cartão e li o nome dele fiquei confusa.
Parte de mim feliz por ter que vê-lo novamente, a outra parte estava triste por ser de uma forma lamentável.
Por que não nos esbarramos em um café?
Ah sim. Ele odeia café.
Fomos até o consultório.
Estava um clima estranho.
Era como se não nos reconhecêssemos mais. O que pode não ser mentira. Seus traços são inconfundíveis, mas sua personalidade não parecia a mesma. Ele estava mais sério.
Minha mãe? Não tinha nada mais que uma gripe forte.
Foi aí que voltamos a ter contato.
Tudo foi voltando aos poucos.
Como em uma fita cassete.
Primeiro as reticências constantes.
Depois os passeios mudos pela cidade.
E então a troca de conhecimento.
E os segredos divididos.
Agora já não ia ao cinema ou ao teatro sozinha.
Voltamos a ter um ao outro.
E assim termina nossa jornada.
Dançando.
Como da primeira vez.
A mesma música de melodia suave.
Ainda era reconfortante estar em seus braços. E eu ainda tinha a duvida se meus sentimentos um dia foram recíprocos.
Mas nada daquilo importava no momento.
Eu só queria estar aqui.
Com ele.
Para sempre.
Não posso deixar essa música terminar.

Eu sei como o destino pode ser cruel.

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